O Trabalho de Corpo e a Arte Que Nos Invade

O trabalho de corpo é imprescindível para a formação de um bom artista cênico (seja ele ator, dançarino ou circense). É movimentando-se que a arte que há subjetivamente em cada um consegue achar um caminho para aflorar, manifestando-se como uma explosão de um meio intrapessoal para um meio interpessoal.

Além do mais, nada é tão poderoso do que o contato físico e a conexão de mentes no meio de uma encenação (seja ela livre ou comandada por um oficineiro), pois é nesse processo do mover-se e sentir-se que o artista desenvolve a intimidade e a empatia cênica para trabalhar bem em equipe.

É tolo todo e qualquer artista que não tem consciência de que não é possível crescer sozinho. Mesmo quando a arte é individual em seu processo, a troca de experiências é válida para o crescimento. Até porque todo artista que se preze sabe que o campo da arte é amplo demais para uma mente apenas.

É também sábio aquele artista que tem convicção que não há um fim para o autodesenvolvimento. Todos os dias algo novo surge e todos os dias é necessário adaptar-se. É preciso estar sempre à procura de um novo eu-artístico, mais evoluído, mais instruído, em comunhão mais profunda com sua própria arte e, por vez, com sua própria essência.

O teatro, especificamente, é movimento. Mas movimento é muito mais que apenas mover-se de um espaço para o outro (pelo menos no teatro). É saber que cada mínimo gesto numa encenação não deve pertencer ao artista, mas à arte. É saber que do primeiro ao último segundo que se pisa num palco (não literalmente falando), o corpo não mais nos pertence, mas sim à arte que deixamos ali crescer.

E entregar-se. O corpo de nada vale se está vazio. Deve-se saber sentir o que é e o que não é verdadeiramente do artista, pois a arte tem suas próprias emoções. É saber não levar o que não é do artista para fora do palco. É saber submergir-se em mundos e corpos que são tão distintos que chegam a conflituar no interior. Mas, acima de tudo, é saber que artista e arte têm um vínculo indestrutível.

Publicado Por: Jonas Fortuni